.'. Kleber Cavalcante de Sousa: abril 2021

quarta-feira, 14 de abril de 2021

UMA UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA

Ao olhar para a história da humanidade observamos que o conhecimento científico sempre exerceu um papel fundamental para transformar o mundo em que vivemos. E nesse contexto, é preciso reconhecer que o surgimento e a expansão das universidades, polos de difusão do conhecimento, foi um fator determinante para que a humanidade conseguisse progredir e oferecer melhores condições de vida a uma considerável parte da sociedade global, em virtude de concentrar de forma espacial estudiosos, professores, pesquisadores e alunos.

Nos últimos 50 anos, as mudanças globais (tecnológicas, ambientais, econômicas e sociais) tem ocorrido em um ritmo alucinante e impactado a vida dos seres humanos em todo planeta. Organizações surgidas no período entre guerras e baseadas nos princípios da revolução industrial estão desaparecendo e gerando espaço para o surgimento de um novo modelo de organização baseada no conhecimento, na comunicação e nas tecnologias, com alto poder de atuação global e pequena dependência do ser humano. Observamos a máquina e a inteligência artificial ocupar o espaço humano e assim centenas de profissões desaparecerão e as pessoas que não se prepararem e desenvolverem novas competências perderão a sua utilidade técnica na sociedade.

As Universidades são centros de pesquisa e difusão do conhecimento, além de pesquisas, precisam contribuir na formação de pessoas mais qualificadas e capazes de enfrentar os desafios que se apresentam no mundo contemporâneo. Essas qualificações e competências vão além da formação técnica profissional, exigindo que seja oferecido oportunidades e condições das pessoas desenvolverem as competências sócio emocionais, denominadas softskils.

Neste sentido, considero essencial o incentivo as atividades no ambiente acadêmico que possibilitem o desenvolvimento de competências empreendedoras e que favoreça o surgimento de uma cultura empreendedora na Universidade, por meio de ensino e práticas de empreendedorismo. Essas atividades são fundamentais para aquelas Instituições de Ensino Superior - IES que desejam ser consideradas Universidades Empreendedoras. Outrossim, acredito que apoiar, articular e estimular a criação de empresas juniores nos cursos da IES têm um papel fundamental nesse processo de transformação da sociedade, pois possibilita aos alunos e professores vivenciarem a experiência prática do exercício profissional no mercado, de modo a conhecer as suas peculiaridades, testar seus conhecimentos técnicos, além de exigir o desenvolvimento de novas competências, relacionadas as atividades comerciais, de comunicação, de inovação e relacionamento pessoal e de atitudes e empreendedoras. Portanto, essas experiências empreendedoras contribuíram para complementar a formação dos futuros profissionais.

O historiador Yuval Noah Harari, em seus livros, assevera que milhões de pessoas em todo o mundo poderão perder suas capacidades laborativas, pois serão substituídos pelo trabalho das máquinas, em função do aumento da robotização e da inteligência artificial. Para sobreviver profissionalmente e continuar a ter uma vida de progresso será preciso que elas se reinventem e aprendam novas profissões, nas quais a máquina não possa os substituir.

Neste mesmo sentido, Alvin Toffler, pesquisador americano do século XX, ao falar sobre as tendências de cenários para o futuro, já previa que “o analfabeto do século XXI não será aquele que não conseguir ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”.

Apesar de a construção de um ecossistema empreendedor envolver vários fatores, entendo que o maior investimento no qual uma IES precisa realizar para tornar-se uma UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA deve ser no desenvolvimento de competências empreendedoras em sua comunidade acadêmica e assim construir uma cultura empreendedora, comprometida em transformar a vida da sociedade ao seu redor, por meio de pesquisas aplicadas e pela formação holística de seus discentes, de modo a torná-los jovens empreendedores e senhores do seu destino.


BIBLIOGRAFIA

BURKE, Peter. A social history of knowledge from the Encyclopédie to Wikipedia. Cambridge: Polity Press. 2012. [Edição brasileira: Uma história social do conhecimento, II. Rio de Janeiro: Zahar. 2012.]

HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Editora Companhia das Letras, 2018.

HECKMAN, James J.; KAUTZ, Tim. Hard evidence on soft skills. Labour economics, v. 19, n. 4, p. 451-464, 2012.

ROBLES, Marcel M. Executive perceptions of the top 10 soft skills needed in today’s workplace. Business communication quarterly, v. 75, n. 4, p. 453-465, 2012.

SOUSA. Kleber Cavalcante de. Liderança Empreendedora: um novo líder para um novo mundo. Natal: AMRA, 2017.

TOFFLER, Alvin. A terceira onda. Rio de Janeiro: Record, 1980.